Alunos com deficiência auditiva dividem espaço com ouvintes |
Professora e intérprete transmitem o conteúdo pedagógico aos alunos ouvintes e surdos Foto: Fabiano Fracarolli Eles se comunicam por gestos e expressões faciais, utilizando uma linguagem diferente dos códigos verbais que a maioria conhece. Por causa da deficiência auditiva, crianças e adolescentes que frequentam escolas estaduais contam com o trabalho dos intérpretes, profissionais que transmitem para os alunos o conteúdo ministrado pelos professores. Em oito, das 46 escolas atendidas pelo Núcleo Regional de Educação (NRE) de Paranavaí, os 18 intérpretes repassam o conteúdo apresentado em sala de aula para 25 alunos. Alguns são concursados, outros fazem parte do Processo de Seleção Simplificado (PSS) e há os que atuam oferecendo apoio pedagógico. Trata-se de uma política pública de inclusão social, que garante aos alunos surdos a oportunidade de conviver com os ouvintes na mesma sala de aula. “A aula é mais lenta, mais detalhada, mas a presença dos alunos surdos ensina os outros a respeitarem as diferenças”, diz a professora de língua portuguesa Edna Bezerra, que leciona na Unidade Polo, em Paranavaí. Na manhã de ontem a equipe do Diário do Noroeste acompanhou uma apresentação feita por cinco alunos da professora Edna. Eles tiveram de levar até os colegas de classe um resumo da obra “Memórias de um sargento de milícias”, de Manuel Antônio de Almeida. “É um livro cobrado no vestibular, por isso precisamos preparar os alunos”, explica a docente. Com o apoio do intérprete Éder Rodrigues Gomes, os adolescentes do segundo ano do ensino médio explicaram a história. Depois, reproduziram o resumo do livro em fotografias feitas por eles próprios, todos caracterizados como personagens da obra. Faltam intérpretes para auxiliar professores da educação especial Se as salas especiais atendem alunos com as mais diferentes deficiências, o papel dos intérpretes para auxiliar os alunos com problemas auditivos é essencial. Mas a falta desses profissionais ainda preocupa. Marcia Helena da Silva é técnica pedagógica da Educação Especial e Inclusão Educacional, do Núcleo Regional de Educação (NRE). Na avaliação dela, para ampliar o número de intérpretes é preciso que haja mais profissionais interessados em ir para as salas de aula. Melissa Chirlei da Silva Galego também é técnica em Educação Especial do NRE. Ela explica que os intérpretes são intermediários entre professores e alunos, e não devem intervir nas ações pedagógicas desenvolvidas dentro da sala de aula. (RS) Apoio aos profissionais ainda é insuficiente, diz intérprete Éder Rodrigues Gomes é intérprete na Unidade Polo de Paranavaí. Em toda a rede de ensino atendida pelo Núcleo Regional de Educação, ele é o único profissional concursado especificamente para esta função. Na opinião dele, ainda é preciso avançar nos benefícios concedidos aos intérpretes. “Não temos tempo para sentar com os professores para conhecer o conteúdo que será aplicado durante a aula. Não recebemos hora-atividade. Por causa disso, fazemos uma interpretação de improviso”, conta. A interpretação, conta Éder, exige respostas rápidas. “O processo de tradução é complexo, cultural. Temos de passar para os alunos surdos aquele conteúdo de uma forma que entendam, e nem sempre é fácil”, afirma o intérprete. A professora Edna Bezerra aponta outra dificuldade. “A escola não está preparada, ainda existe resistência de muitos professores”. Segundo ela, o fato de a inclusão dos alunos surdos ser novidade para os ouvintes também tornam o processo de interação mais lento. “Mas é um primeiro e importante passo”, diz. (RS) FONTE: DIÁRIO DO NOROESTE |